quarta-feira, 25 de maio de 2016

MIL PALAVRAS





Sócrates e Platão foram dois pensadores gregos que deram muita importância aos conceitos absolutos como Verdade, Justiça, Amor, Bondade, Beleza. Pelo pensamento desses dois filósofos  as pessoas deviam buscar a essência das ideias.
Na visão dos sofistas, que eram os precursores dos atuais professores, o importante não era exatamente o conceito absoluto sobre algo, porque para eles não haviam absolutos, mas relatividades, sendo o homem a medida de todas as coisas na concepção de Protágoras, ou seja, o que valia não era o conceito em si, mas aquilo que o homem pensava a respeito dele, e de acordo com as situações e momentos em que estivesse vivendo. 
Naquele processo histórico, a sociedade grega vivia o auge da democracia inspirado no modelo de Atenas Não havia tanta necessidade de  treinar o corpo, as habilidades guerreiras, mas principalmente desenvolver argumentos e de que maneira utiliza-los para convencer, pois a democracia ateniense era direta e pressupunha que os cidadãos dispusessem de capacidades argumentativas para defender seus direitos na Ágora!
De lá para cá, ocorreram diversas mudanças na sociedade, até mesmo a democracia se estendeu a outros povos, em outras dimensões e não havendo mais a possibilidade de uma participação direta, passamos ao modelo representativo.
Mas a capacidade de usar a persuasão, e a oratória para convencer continua, levando a palavra a um status que extrapola sua real importância.

Isso vai contaminando os diversos grupos sociais, que passam a usar a retórica como estratégia para alcançar vantagens nas situações da vida, o que não está errado, desde que esse uso não ultrapasse as noções de ética e convivência ,o que então se transformaria no famoso "jeitinho brasileiro"
No filme Mil palavras, Jack McCall era um agente literário extremamente falante, que conseguia fechar contratos usando de seu grande poder de oratória e persuasão e se utilizando de alguns recursos digamos fora de padrões éticos aceitáveis, como a cena em que para passar a frente de uma grande fila, simulou ter recebido uma chamada telefônica do hospital, onde sua esposa estaria para ganhar gêmeos. 
Jack , da mesmo forma, consegue entrar em contato com um místico com milhares de seguidores e que seria uma ótima aposta para a publicação de um livro. 
Através da persuasão e engodo , consegue assinar um contrato. Qual a sua surpresa quando descobre que o livro tinha apenas 5 páginas.
E o pior: Em seu quintal nasce uma árvore e de alguma forma estranha essa árvore está ligada a ele, e toda vez que  expressa uma palavra cai uma folha. Conversando com o místico, esse lhe explica que possivelmente aquela árvore simbolize a sua vida, e que cada verbalização faz cair uma folha, uma metáfora da sua força vital que está se esvaindo e possivelmente ao cair da última folha ele irá morrer.
Jack se desespera e então tem início as tentativas de falar o menos possível, inclusive usando o artificio de mímica.
Bem a película continua e o final é muito interessante, mas o que quero usar como reflexão é que Jack era um homem que acreditava no poder das palavras, das realizações humanas, mas pouco se interessava pelo silêncio, pelo ouvir da voz interior, de sua consciência e espiritualidade. A árvore que ia perdendo suas folhas simbolizava o próprio Jack que necessitava cuidar de si mesmo de sua interioridade, desenvolver suas competências espirituais, exercitar o perdão, e enxergar o mundo de forma diferente.
Igualmente podemos aprender sobre a importância das palavras ditas no tempo certo, não desperdiçada em conversas frívolas, ou servindo simplesmente para convencer, ou para diminuir pessoas, o que é muito comum em nossa sociedade.
Como reagiríamos, se soubéssemos que temos apenas mil palavras? Quais delas elegeríamos para nos expressar, e quando falar e para quem falar?

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